Pular para o conteúdo principal

A dona do jogo

Lá estava ela. Amarela, redonda, de couro. Ou seria sintético? Bom, vai lá, não importa. o que importa é que ela estava lá.

O cenário de fim de tarde com possibilidade de chuva parecia desanimador a olhos desavisados, mas para ela era momento de glória que se aproximava. Dentro da mochila parecia sentir que seria a estrela daquela noite. E não estava errada.

Saiu para o piso de concreto. Solitária rolava pela quadra, amarela, viva. Mais nada além dela. Ao fundo o sol tentava se por, competindo com as nuvens pela liderança na paisagem de fim de tarde, junto com o mar.

Mas quem reinaria absoluta, seria ela. Assim que apareceu redonda e amarela, como um enxame de abelhas, começou a aparecer gente. Gente de todas as cores, credos, classes sociais, times e visões políticas.

Homens e mulheres, crianças e adultos. Tudo para ve-la. Montaram-se times, três, não, quatro, chegaram mais alguns: - E aí podemos entrar "de próximos"?

- Claro, só esperar, melhor de três, são quatro na linha e um no gol.
- Beleza, vou calçando a chuteira.
E lá ia ela...de um lado para o outro sempre em busca das traves, ou melhor tentando entrar entre elas. E caiu um de um lado, o outro pulou, um terceiro agarrou com toda força.

E sem ela não tem show. Sem ela não tem sentido daquele encontro quase marcado entre aquelas pessoas, algumas que nunca se viram e que talvez não tenham nada em comum. Ou melhor quase nada em comum. Pois eles tem a ela.

E suados, eles se revezaram no banco a fim de recuperar o fôlego e dar a chance de todos jogarem. E ela? Estava lá...amarela e imponente, objeto de desejo de todos os presentes se fazendo ser apreciada e admirada pelo simples ato de rolar. E a noite caiu.

Depois de muito correrem atrás dela, se cansaram. Quanto a ela, ficou parada, estática na quadra do Aterro do Flamengo. Beberam água e conversaram. Já era tarde, o dono tinha que ir.
- Mas não tem mais nenhuma opção, ninguém trouxe nada?
Não, apenas ela.

Então, se ela ia, todos iriam também. Não havia porque estarem na quadra sem ela. Não havia graça alguma. Um a um todos se despediram. Ela voltou para a mochila, não sem antes ser cuidadosamente embrulhada em um saco plástico. E a lua passou a ser a grande dama da noite.

Mas a rainha?! Aaaah sem dúvida alguma, tinha sido ela.

A bola.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Olhares

Ironico talvez seja a melhor palavra para definir o quão diferente uma situação pode ser vista, dependendo do olhar. Não jornalisticamente falando, mas uma mesma situação pode ser analisada de n formas diferentes. Basta saber o que se passa no coração de quem vê. Ruim ou bom, depende da forma como vemos isso. E aí entro em redundância, pois falo novamente das várias faces de uma moeda. Prefiro sempre o olhar do bem. O olhar que não vê maldade, o olhar do crescimento e aprendizado constantes. Acho que meus olhos ainda estão semicerrados, mas prefiro eles assim. Quero crer que tudo visa o bem maior, independente de crenças ou concepções. Talvez seja o olhar do sonhador...vai saber?!

Aquarelando 2

Ele Algodão cru, cavalete, tinta, pinceis e lápis. Sonhos, poesia, esperança, fé, determinação. Mão hábeis, olhos castanhos, puros, cristalinos. O mundo, mundo vasto mundo, diante das duas janelas: a da casa e a da alma. A tela, antes branca agora apresentava rabiscos. E iam surgindo traços, linhas, curvas; Ideias e ideais, ensejos e desejos. E os prédios descortinavam a baía de Guanabara... olha, ali é o Pão de Açúcar! E ela?! Ali tão alto, ela se sentia pequena frente ao mundo. Mundo que ela estava descobrindo. Mundo que ainda tem para conhecer. Mundo que ela já tinha visto. E tudo ali, diante dos olhos... como se fosse uma pintura. Como se fosse a pintura dele, que apresentava tudo a ela. E aquarelavam barcos a vela, tanto céu e mar no beijo azul. E começava a salpicar de estrelas prateadas a tinta negra que se derramava no céu. Era a noite que caía. E como pequenos vagalumes ansiosos, as luzes começaram a piscar aqui e ali. Dali, ou de lá?! E tal e qual na música, entre

A independência e o guarda chuva

Semana passada me deparei com uma cena muito curiosa. Uma menina, no alto dos seus 7 ou 8 anos, pedia insistentemente para que a mãe lhe comprasse um guarda chuva da Hello Kitty. Fora toda a questão consumista da estória, o que mais me chamou a atenção foi o discurso da menina. Ela queria o guarda chuva, porque ela já era grande! Sim, ela era grande e não precisava mais dividir o guarda chuva com a mãe. Parei pra pensar e vi que realmente, o guarda chuva é um grande sinônimo de independência. Afinal de contas, com o guarda chuva, estamos protegidos da chuva e do sol (algumas pessoas usam para essa finalidade) e temos a liberdade de irmos e virmos para/de qualquer lugar. Olha que maravilha, o guarda chuva é uma fabulosa ferramenta da liberdade! Devaneios infantis à parte, o conceito de liberdade e independência é latente, não importa a idade. Há o anseio do ser humano de querer não precisar de ninguém e ser autosuficiente para tudo, com o discurso do "eu quero, eu posso, eu faço&